domingo, 23 de março de 2014

OS EUA DERRUBARAM JANGO: ISSO NÃO É CONSPIRAÇÃO, É HISTÓRIA!


---0---superSuperinteressante aborda golpe de 64 em reportagem especial (Imagem: Divulgação)

A edição de março da revista Superinteressante, da Abril, destaca o conteúdo especial sobre o golpe militar de 64. Na reportagem, assinada por Jennifer Ann Thomas, a publicação aborda da participação dos EUA na implantação da ditadura militar no Brasil.
O texto bastidores conta os bastidores deposição de João Goulart e afirma que os americanos deram o empurrão final na derrubada do governo brasileiro. O trabalho é baseado em em depoimentos de especialistas e nos arquivos recém-abertos pela Lei de Acesso à Informação. A matéria contextualiza a influência militar americana sobre as forças armadas brasileiras nos 20 anos antes do golpe, desde a Segunda Guerra Mundial, quando as tropas dos dois países lutaram juntas.
Os EUA treinaram, financiaram, deram apoio logístico aos golpistas e tinham tropas prontas para intervir caso os planos não seguissem como esperado. Além do texto principal, a revista conta com elementos gráficos, como uma linha do tempo, que permite visualizar os passos que levaram ao golpe.
Os arquivos recém-abertos revelam toda a influência dos americanos no golpe de 64. Eles bancaram os golpistas, tinham tropas prontas para intervir e se seu favorito sucedeu Jango. NÃO É CONSPIRAÇÃO, É HISTÓRIA.
Vamos aos pontos principais da reportagem
John Kennedy tinha um brinquedo novo. Quando os convidados chegaram, o presidente, apertou um botão escondido na lateral de sua mesa, acionando um microfone no Salão Oval e um gravador no porão da Casa Branca. Era a estreia de uma engenhoca secreta que registrou 260 horas de conversas sigilosas. 
Olha que coincidência: a primeira gravação é sobre o Brasil. Das 11h52 às 12h20 de julho de 1962m debateu-se o futuro e a fritura de João Goulart. O embaixador americano no Brasil, Lincoln Gordon, disse que jango estava " dando a porcaria do país de graça para os..." "... comunistas", completou Kennedy. O assessor Richard Goodwin ressaltou: "podemos muito bem querer que os militares brasileiros tomem o poder no final do ano". Isso quase dois anos antes do Golpe de 64.
Desde 1961 com a chocante renúncia de Jânio quadros e a conturbada posse de Jango, as reuniões de Kennedy sobre nosso país eram monotemáticas> como impedir que o Brasil se tornasse uma gigantesca Cuba? Apesar disso, Lincoln Gordon, embaixador no Rio entre 61 e 66, morreu em 2009, aos 96 anos, negando que os americanos teriam participado do golpe. Durante e após a ditadura, que foi até 1985, muitos pesquisadores brasileiros menosprezaram o papel dos americanos, tachando investigações nesse sentido de paranoia e teoria da conspiração. Mas documentos revelados nos últimos anos contam uma história diferente, que vai sendo revelada aos poucos.
Parte desse material ganhou destaque com o documentário O Dia que Durou 21 anos, da dupla de filho e pai Camilo e Flávio Tavares - autor de um grande livro sobre a luta contra o regime, Memórias do Esquecimento. O filme apresenta gravações e documentos oficiais e expõe justamente a articulação do governo americano com os militares brasileiros contra Jango. Arquivos recém-abertos nos EUA estão mexendo até com obras definitivas: os quatro livros do jornalista Elio Gaspari serão reeditados levando em conta as gravações clandestinas de Kennedy e seu sucessor Lyndon Johnson. E ainda há muito a ser revelado: Carlos fico, historiador da UFFRJ, estima que mesmo com a Lei de Acesso à Informação ainda não se analisou 20% dos arquivos dos órgãos de repressão brasileiros.
De qualquer forma, as informações disponíveis já permitem cravar: Jango caiu com um empurrão dos EUA. O governo americano instigou os militares, financiou a oposição, boicotou a economia e tinha tropas e navios prontos se fosse necessário intervir. Não foi. 

JANGO LIVRE

O vice-presidente João Goulart soube da renúncia do presidente Jânio Quadros após uma viagem oficial à China, durante uma missão extra-conjugal em Cingapura. Em 2014, após 29 anos de uma democracia ininterrupta, seria uma surpresa se o vice não assumisse, seja quem for e onde estiver. Em 1961, a regra não era tão clara. Aliás, era feita para confundir: havia eleição para presidente e também para vice. Os vencedores poderiam ser de campos opostos. E, em 1960, foram: Jânio era um salvador-da-pátria de direita , Jango um para-raios de todas as tempestades de esquerda. Quando o presidente deixou o campo após sete meses, seu reserva era de outro time. E o árbitro - nesse caso, as Forças Armadas - não quis que o reserva entrasse.
Jango foi defendido em seu Estado natal, o Rio Grande do Sul, onde o governador (e seu cunhado) Leonel Brizola criou a Campanha pela Legalidade para impor sua posse. Com a nação à beira de uma guerra civil, aceitou ser presidente em um regime parlamentarista. Ganhou o cargo, mas não o poder.
Mesmo enfraquecido, ele assustava Kennedy, que o recebeu em abril de 1962. A primeira-dama Maria Thereza Goulart, rival à altura de Jacqueline Kennedy, encantou Washington, mas os EUA mantiveram 2 pés atrás com Jango. Para os americanos ele era um radical livre. Além de manter boas relações com Cuba, defendia impostos pesados e até expropriação de empresas americanas no Brasil. Os relatos de Gordon sugeriam que ele se tratava de uma marionete de Moscou.
Em janeiro de 1963, a 14 meses do golpe, Jango recuperou os poderes presidenciais: 91% da população votou contra o parlamentarismo em um plebiscito. O pleito tinha sido convocado por ele, o que os americanos compararam a "uma jogada de Garrincha, um jogador de futebol que corre riscos esperando obter grandes ganhos". Mas ser contra o parlamentarismo não significava ser a favor de Jango. Sim, ele contava com apoio dos pobres: uma pesquisa do Ibope às vésperas do golpe e não divulgada na época mostrava uma aprovação de 86% entre as classes sociais mais baixas de São Paulo. Mas um levantamento do oposicionista Aníbal Teixeira, no mesmo período mostrava que o golpe era apoiado por 80% do exército, 72% dos empresários 72% dos empresários, 66% do clero e 58% dos estudantes. Na imprensa, tinha fama de indeciso e incompetente. Havia suspeita de que ele planejava realizar seu próprio golpe, com apoio da esquerda.
Jango estava encurralado, e muito por culpa dele mesmo. A história seria diferente se ele tivesse apoio dos americanos? Ou dos militares brasileiros? Se bem que aí é especular demais. O alinhamento desses dois grupos não teve início desse golpe nacional, mas, muito antes, em uma guerra mundial. 

COMANDOS EM AÇÃO

Precisou que um submarino alemão afundasse cinco navios brasileiros em 40 horas para que Getúlio Vargas deixasse de manobras e entrasse de vez na Segunda Guerra contra Hitler. Isso foi em 1942. Só em 1944 os primeiros brasileiros chegaram à Itália para lutar sob comando dos EUA. A Força Expedicionária Brasileira era formada por 25 mil pracinhas. O contingente, metade do previsto, era mal equipado e mal preparado - houve meses de treinamento suplementar em solo italiano. Cientes de que organização não eram nosso forte, os americanos escolheram como oficial de ligação entre os dois exércitos cujo talento principal era o jogo de cintura: Vernon Walters.
Sem diploma universitário, e militar há apenas três anos, Walters era fluente em sete idiomas. Inclusive português, que aprendeu guiando militares lusitanos em visita aos EUA. Conquistou os brasileiros com gestos simples, como o de conseguir casacos para nossos soldados enfrentarem o inverno nos alpes. alem de condecorações, ganhou o posto de adido militar no Rio de Janeiro entre 1945 e 48.
Após o período da Segunda Guerra foi de muito intercâmbio entre oficiais brasileiros e americanos. Após o convívio com forças realmente armadas na Europa, nossos militares pressionavam o governo por mais máquinas, armas e experiência. Centenas foram estudar no exterior, principalmente na Escola das Américas no Panamá, centro de treinamento criado pelos Estados Unidos, e na National War College, inspiração para a criação da nossa Escola Superior de guerra. Independente do endereço, a ideologia era uma só: eliminar o comunismo.
Esse objetivo não era apenas de militares, mas também de civis. Uma tarefa importante dos agentes da CIA era monitorar a America Latina para avaliar a possibilidade de golpes que evitassem "novas Cubas". Sean Purdy,, canadense e professor de história dos Estados Unidos na USP, explica que a agência amaricana não possuía uma formula: podia haver envio de tropas ou apenas apoio logístico e financeiro. E aliados eram imprescindíveis. "Nenhum golpe apoiado peloa americanos aconteceu sem que o país tivesse forças internas para articulá-lo. Ele não era imposto. Os EUA têm sua culpa, mas, também no caso do Brasil, havia parte da sociedade que apoiava a derrubada do governo" explica Purdy. Durante a Guerra Fria, estima-se que a CIA tenha participado de, no mínimo, 26 golpes de estado.
Naquela primeira reunião grampeada por Kennedy ficou decidido que os EUA apoiariam um golpe militar no Brasil. E que o homem para saber quando e como esse golpe aconteceria era: Verno Walters. Quando desembarcou no Rio em outubro de 1962 para reassumir o posto de adido militar, 13 generais brasileiros lhe esperavam para dar as boas-vindas.
Para James Green, historiador da Univesidade Brown, o fato de Walters cai em um ambiante simpático facilitou sua missão de instigar a derrubada de Jango. O conhecimento acumulado facilitava a ida de um conspirador a outro. Em seu livro de memórias Walters desconversa: conta que gostava muito de tomar sorvete com seus amigos, e que não conversava sobre política nesses momentos. "Duvido que isso fosse possível", diz o historiador americano. Apesar de não haver registros, Green acredita que Walters era influente o suficiente para, de forma sutil, deixar claro o nome que mais agradava aos EUA para ser o primeiro presidente após o golpe. A honra coube justamente a um companheiro de Vernon da Segunda Guerra, um general cearense com quem o americano chegou a dividir o quarto: Humberto de Alencar Castello Branco.

A COR DO DINHEIRO

Nem só de tramas ocultas vive uma conspiração. Também é preciso abrir a carteira. Além de financiar adversários de Jango, os EUA os desestabilizaram negando financiamentos ao Brasil.
O apoio aos políticos vinha da Aliança para o Progresso, programa criado no início da gestão Kennedy. Nas eleições estaduais e parlamentares de 1962, era fundamental impedir um crescimento da esquerda brasileira. Rolou uma espécie de mensalão americano: A Aliança distribuiu entre os adversários de Jango US$ 5 milhões - metade do que havia custado a campanha presidencial de Kennedy em 1960. Gordon chamava os contemplados de "ilhas de sanidade". Caso de João Cleofas que perdeu a disputa para Miguel Arraes, e de Carlos Lacerda, que já era governador da Guanabara e assumiu o papel de porta-voz da oposição. O repasse dessa verba marca o início do envolvimento direto dos americanos na política brasileira.
Outra fonte de propaganda ficava por conta do Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais (IPES) e do Instituto Brasileiro de Ação Democrática (IBAD), dois órgãos brasileiros que contavam com financiamento dos Estados Unidos. Ambos produziam conteúdo para rádio, televisão, cinema e jornais pregando o anticomunismo e a oposição a Goulart, frequentemente misturando as duas coisas. Além das campanhas amplas, o plano americano também contemplava ações focadas em púbico diferenciado e formador de opinião: Os militares brasileiros. Gastram atuais US$ 60 mil em livros para oficiais, e só em 1963 organizaram 1.706 exibições de filmes "progressistas" em quartéis, bases, escolas e navios.
Não bastasse a campanha de desestabilização interna, havia também o boicote externo. Tanto Kennedy quanto Lyndon Johnson, seu sucessor, congelaram os empréstimos que Jango havia acertado com instituições internacionais. Com muito capital investido no Fundo Monetário Internacional (FMI) e no o Banco Mundial, os EUA podiam decidir quais as propostas poderiam ser aprovadas ou não. Como embaixador, Gordon garantia que Goulart vivia sob influência do comunismo e o dinheiro iria para a guerrilha, o pedido era negado. (Gordon não escondia sua antipatia pelo presidente brasileiro. Em agosto de 1963, pôs um telegrama: "é quase certo  que Goulart fará tudo para instituir alguma forma de regime autoritário". Mai adiante, torce contra sua saúde: "Se Deus é realmente brasileiro, o problema cardíaco de Goulart, de 1962, brevemente será mais agudo".)
Menos de um mês do golpe, os americanos aprovaram o envio de US$ 1 bilhão para o desenvolvimento para o presidente Castello Branco, o que motivou o FMI e o Banco Mundial a enviar recursos. Era como se já estivesse tudo acertado. Bom: alguma coisa já estava.

O QUE TODO MUNDO FAZ

Um mês e meio antes de ser assassinado em Dallas, Kennedy chamou Lincoln Gordon ao Salão Oval e apertou o botão mais uma vez. O áudio desse encontro foi postado no site da Biblioteca Kennedy e descoberto por Elio Gaspari - parte dele estará na nova edição de A Ditadura Envergonhada. Em 7 de outubro de 1963, o presidente americano quis saber do embaixador o que fazer com seu colega brasileiro. Gordon respondeu que havia dois cenários: Jango podia abandonar seu discurso esquerdista e resolver a coisa de modo pacífico. "Ou não tão pacífico: ele pode ser tirado involuntariamente." Gordon buscou instruções: "Vamos suspender relações diplomáticas, econômicas, ajuda, todas essas coisas? Ou vamos encontrar uma maneira de fazer o que todo mundo faz"? Kennedy pega a bola e mais adiante devolve: "Acha aconselhável que façamos uma intervenção militar?" Pense naqueles 26 golpes com selo CIA de qualidade.
Gordon desaconselhou uma ação imediata. A não ser que Jango se aproximasse de "velhos amigos" como Brizola. Ficou por isso mesmo. Kennedy morreu e a bola passou para seu sucessor, Lyndon Johnson.
Atolado com a Guerra do Vietnã, Johnson repassou a bola para Thomas C. Mann, novo coordenador da Aliança para o Progresso. E bota coordenador nisso: em 18 de março de 1964 se reuniu com todas as autoridades envolvidas com a América Latina. Desse encontro saiu a Doutrina Mann: os Estados Unidos reconheceriam o governo de qualquer aliado, mesmo sob regime autoritário, contanto que continuasse anticomunista. A definição a poucos dias do golpe era um sinal claro para os militares golpistas agirem com segurança, escreveu o New York Times no dia seguinte. Mann, em vez de desmentir, declarou: cada caso era um caso.
No caso do Brasil, havia a Operação Brother Sam. Não, não é paranoia: é história, comprovada por múltiplas fontes. Caso os golpistas precisassem de uma força, os Estados Unidos tinham mobilizado um porta-aviões, um porta-helicópteros e quatro navios petroleiros - havia receio que faltasse gasolina para os "revolucionários".  A operação foi planejada com apoio de brasileiros: o general José Pereira de Ulhoa Cintra, homem de confiança de Castello Branco, seria o responsável por avisar Walters caso necessitasse de ajuda.
O estopim do golpe, no entanto não veio de Washington, mas do centro do Rio de Janeiro. É lá que fica o Automóvel Clube, onde em 30 de março Jango em chamas disse a militares aliados que "o golpe que nós desejamos é o golpe das reformas de base, tão necessárias ao nosso país". Para Jango, "as reformas de base" eram uma bandeira; para a oposição, a aurora do Brasil Soviético. Na mesma noite, chegou a Washington um telegrama afirmando que o golpe aconteceria dentro das próximas 48 horas, partindo de São Paulo ou de Minas Gerais. Foi de Minas: o general Olympio Mourão Filho saiu de Juiz de Fora, dando início ao movimento que derrubaria o presidente.
Só no dia seguinte Jango voou do Rio para Brasília, onde foi informado que o movimento de Minas podia ter conhecimento e apoio dos EUA. Para muitos, esse alerta explica a falta de resistência de Jango e sua fuga para o Uruguai: ele não quis enfrentar os americanos. Americanos que nem vieram: em 1º de abril, Castelo Branco avisou Gordon que as embarcações da Operação Brother Sam, que vinham do Caribe, podiam dar meia volta.
O deputado Rainieri Mazzilli assumiu a presidência interinamente. mas quem seria o presidente militar? Costa e Silva, ligado à linha dura, quis impor seu nome. Ficou para 1967. Em 1964, deu Castello Branco - para Green, graças à influência americana. Castello tomou posse em 11 de abril, prometendo "entregar, ao iniciar-se o ano de 1966, ao meu sucessor legitimamente eleito pelo povo em eleições livres, uma nação coesa".
Durante os 21 anos de ditadura, Lincoln Gordon a defendeu. Ignorava a censura, a tortura e celebrava o Milagre Brasileiro. Defendeu até o fim que 1964 o Brasil estava à beira de uma revolução comunista. Nunca se soube por que foi tão fácil para os militares tomar o poder. E talvez nunca se saiba: até hoje não encontraram um gravador no porão do Kremlin.

Fonte: Super Interessante - Reportagem: Jennifer Ann Thomas 

NOTA DA BLOGUEIRA: Para mim há muito mais por trás disso tudo do que essa reportagem diz. Faltou dizer como foram treinados os militares brasileiros para a tortura, como os EUA infiltraram líderes nazistas em todas as ditaduras implantadas na América Latina, como foram trazidos os materiais de tortura onde continham a inscrição "doado pelo povo dos EUA", como foram treinados os serviços de inteligência das empresas que apoiavam a ditadura e ainda mantém esses mesmos métodos até os dias de hoje, enfim, há muita coisa a ser esclarecida. 
Lembro sempre que para tortura não há anistia e que esse crime é imprescritível.
LUGAR DE TORTURADOR VIVO É NA CADEIA E DOS QUE JÁ MORRERAM É UMA CONDENAÇÃO POS MORTEM PARA QUE A FAMÍLIA DELES CONVIVAM COM A VERGONHA DO QUE ELES FIZERAM COM OS PRESOS POLÍTICOS TORTURADOS VIVOS, MORTOS E DESAPARECIDOS.
Achei interessante a reportagem, mas, em algumas partes, bastante tendenciosa, no que se refere ao Jango, mas, em se tratando de uma publicação da Abril, já é alguma coisa.
* Todos os negritos são meus.




sexta-feira, 14 de março de 2014

Renovar a história do Brasil, passo essencial para uma Educação de Qualidade


Por Myriam Andrea no Facebook.

Creio que contar a verdadeira história é um passo importantíssimo para uma educação de qualidade. A mentira só interessa aos que temem a verdade. As mentiras só interessam aos que construíram suas convicções sobre elas. As mentiras só satisfazem aos que desistiram de aprender, que ficaram estagnados.
Ao longo dos 21 anos de ditadura, os governos militares não só investiram na censura e na repressão/perseguição/aprisionamento/tortura/assassinato das vozes discordantes, das melhores cabeças e mentes mais criativas e ousadas; na aniquilação dos que tinham os ideais, projetos e propostas mais inteligentes, humanos e nobres para a sociedade, como se empenharam na alienação social, através da propaganda explícita ou subliminar, carregada de ufanismo nacionalista (quando menos tivemos do que nos orgulhar), do sucateamento da educação, já que impossibilitaram uma formação crítica, consciente e diversificada.
Nos porões se torturava e se roubava, hoje sabemos, mas, na época, nada podia vir a público, nada podia ser investigado. Esta era do medo e da mediocridade não termina exatamente em 85, já que só tivemos a primeira eleição direta para presidente (desde 1960!) em novembro de 89. E todos bem sabemos o quanto aquela campanha/eleição foi manipulada (há provas) pela Globo – empresa sem a menor credibilidade, que nasceu, cresceu e enriqueceu na ditadura, e anda doidinha para dar outro golpe.
A Mídia inventou Collor, que foi eleito pelos que consomem qualquer coisa que lhes seja empurrada pela Vênus Platinada; mídia mastigou, não digeriu, regurgitou Collor – para isso se utilizou dos caras pintadas.
Entrou Itamar, por apenas dois anos, o pai do Plano Real (de controle inflacionário), que ressuscitou o fusca/VW e saiu com a popularidade em alta, o que ajudou a eleger o “coiso” sociólogo.
Após esta fase conturbada, vem FHC, que quebrou o país três vezes, comprou sua reeleição, nada fez pela educação, saúde, moradia popular entre outras necessidades. Um completo desastre.
Nesse período, o Brasil foi barbaramente saqueado, mas, como na ditadura, também não se investigava nada. Não é à toa que o Procurador Geral da República da época ficou conhecido como Engavetador Geral da República. Mais de 100 bilhões desapareceram num passe de mágica. Privataria Tucana e escândalos inumeráveis. Nosso país continuava de quatro, cada vez mais endividado e desrespeitado pelo resto do mundo. A situação da população e sua autoestima, lá em baixo. Oito anos de tucanagem, terra arrasada.
Só em janeiro de 2003, com Lula, seguido por Dilma, 2011, o país e o povo começaram a ser cuidados. Depois de tirar o Brasil do buraco, Lula se dedica a acabar com a fome e tirar da miséria milhões de brasileiros (ignorados/explorados por décadas) e passa a investir, cada vez mais em educação, saúde, moradia, agricultura, infraestrutura (energia, portos, saneamento, água para quem tem sede) na criação de empregos.
A autoestima do povo, a imagem e a credibilidade do país, finalmente, em alta! E isso com a “grande” mídia metendo o pau no Governo, prometendo que o país iria falir, desde 2003.  A partir de 2008, com a maior crise mundial dos últimos 80 anos, o ocidente vindo abaixo, o PiG* exultante garante, todo ano, que o Partido dos Trabalhadores não vai vencer mais uma batalha e vence! Como? Não sei. Só posso reconhecer, admirar e apoiar.
E é sabotagem, mentira, boataria, difamação…ataques de tudo quanto é lado. E os oponentes são tão burros, cretinos, mesquinhos e vira-latas que torcem e agem contra o Brasil e os brasileiros, ao invés de fazerem oposição política, ideológica. Não têm argumentos, não apresentam propostas, só o que fazem é pensar em um jeito de tomar o poder de volta, o que já não conseguem no voto, mesmo que para isso tenham que fazer coisas impensáveis. E fazem toda essa acrobacia para, em alguns anos, colocarem abaixo o tanto que foi construído até agora, destruírem tudo que foi conquistado e nos mandarem de volta para o atraso.
A verdade precisa sim ser resgatada, especialmente num país em que, por décadas, ela esteve escondida, foi distorcida ou negligenciada. E o analfabetismo político (plantado na ditadura) ainda é tão grave em certos setores da sociedade que pessoas movidas a preconceito, sequer sabem o que é da alçada municipal, estadual e federal, para cobrar das pessoas e órgãos corretos o que está mal feito, o que está errado. Confundem até o público com o privado.
Enfim, escolas temos várias, principalmente nos últimos Governos que fizeram mais pela educação do que nos 500 anos de Brasil, mas, para termos educação de qualidade, também dependemos de renovar nossa história. Que o trabalho da Comissão da Verdade possa arejar as cabeças pensantes e mostrar a realidade e que nossa história seja desmistificada de uma vez por todas, para que os alunos de hoje possam saber e fazer mais pelo Brasil de amanhã.
*Partido da Imprensa Golpista

Fonte: http://www.ligiadeslandes.com.br/10/03/2014/renovar-a-historia-do-brasil-passo-essencial-para-uma-educacao-de-qualidade/

sábado, 8 de março de 2014

AS PRINCESAS DA DISNEY E SEUS ESTEREÓTIPOS

Em outubro de 2009, o Sociological Images colocou duas ilustrações sobre princesas Disney. Esta se chama “O que os príncipes da Disney ensinam aos homens sobre atrair mulheres” (seja rico, charmoso, famoso, e atraente). A outra eu traduzo no final do post.


Pegando o gancho sobre personagens femininas marcantes no cinema, vou falar sobre algo que li esses dias e que tem a ver com personagens feminimos da ficção. Li um artigo de Carolina Lanner Fossatti, da PUC-RS, onde a autora faz uma análise das categorias de gênero sobre as princesas e heroínas disney, e como me interessei pesquisei um pouco mais, encontrando também no a evolução das personagens Disney.
Desde pequena sempre gostei muito dos desenhos Disney e não tinha me dado conta, até agora, do quanto eles nos influenciam. Não é de se estranhar algumas atitudes e pensamentos que povoam o universo infantil, que vão desde o estereótipo imposto como ideal de beleza e de comportamento (branca, magra, submissa, casta) àqueles relacionados a questões sociais (o ideal e aceito pela sociedade é a mulher casar com homem rico).
Pensando agora sobre esses filmes e sua trajetória conseguimos enxergar mudanças e avanços, mas que estão ainda longe de serem totais. As princesas foram se modificando em seu comportamento, nas atitudes, pensamentos, etnias. No desenho mais recente da Disney, a princesa é uma garçonete negra que vive no subúrbio.
Partindo do que eu li nesses links e nas reflexões que tive, já que tenho todos os vídeos dos desenhos e os conheço de cór e salteado, vou citar a evolução dessas personagens:
- Branca de Neve, de 1937, protagonista do primeiro clássico da Disney. Ela inaugura o ideal de princesa que se mantém há mais de sete décadas: uma mulher bonita, dócil, pura e de bom coração. Ao comer a maçã envenenada, Branca de Neve é traída por sua ingenuidade e derrubada pela competição feminina, a Rainha Má. E as únicas pessoas que têm compaixão por ela e a ajudam são homens, os anões e o caçador que a liberta, ao invés de matá-la. Além disso, a salvação de Branca de Neve está na passividade: ela deve esperar deitada e casta até que o príncipe encantado apareça e resolva o problema.
- Cinderela, de 1950, também bela, pura, casta e bondosa, é submetida pela madrasta e pelas irmãs a uma rotina de servidão e humilhações (já que a competição e a maldade feminina imperam), e aceita o sofrimento com doçura. Mais uma vez, a princesa tem uma atitude passiva diante dos problemas, mas desta vez é a Fada Madrinha que traz a salvação, num passe de mágica. Porém, com uma advertência e uma punição para as mulheres que desobedecerem a hora de voltar pra casa. Mulheres de respeito não podem ficar na rua a partir da meia noite. A salvação de sua rotina de humilhações está novamente num homem, ou precisamente, no casamento.
- Aurora, a bela adormecida de 1959. Entre as princesas, é certamente a que tem o papel mais passivo na trama, já que só aparece acordada em menos de 20 minutos de filme. Está sempre preocupada em agir de acordo com o que os outros querem e não reafirma suas próprias opiniões. E claro, é salva por um homem e pelo casamento.
- A pequena sereia, de 1989. A sereia deseja ter pernas para tentar conquistar o príncipe e não hesita em modificar sua aparência física para estar de acordo com o padrão estéticoimposto, mesmo que para isso tenha que sacrificar também sua voz, ou seja, sua liberdade de expressão. Desse modo, vai conseguir o que toda mulher deseja, casamento. Enovamente, a personagem má da história é uma personagem feminina (a bruxa do mar) e que não atende a nenhum estereótipo de beleza ― não é branca, não tem cabelos compridos e é bem gorda. Quando a bruxa do mar lhe diz que ela terá que perder a voz, a sereia lhe pergunta como conseguirá conquistar o príncipe. Ao que a malvada lhe diz: "Você terá sua aparência, seu belo rosto, e não subestime a linguagem do corpo". E ainda canta uma música pra ela que diz assim (versão dublada brasileira): "O homem abomina tagarelas; garota caladinha ele adora. Se você ficar falando, o dia inteiro fofocando, o homem se zanga, diz adeus e vai embora. Não vai querer jogar conversa fora, que os homens fazem tudo pra evitar. Sabe quem é mais querida? É a garota retraída. E só as bem quietinhas vão casar." É mole? Porém, aqui a princesa mostra algum avanço, ao desafiar o poder patriarcal e sair um pouco da passividade, já que ela toma a iniciativa perante o homem.
- Bela, de A Bela e a Fera, de 1991. A heroína que se apaixona pela Fera e enxerga além de sua aparência monstruosa inova ao esnobar o rapaz mais desejado do povoado e demonstrar seu amor pela literatura. Aliás, no começo Bela nem pensa em casamento, apenas almeja sair da cidade pequena e progredir. O interessante é que ela é vista na cidade como uma mulher muito estranha. Todos se perguntam por que ela não quer casar e não se interessa por vaidade, apenas por leitura. E é legal também que colocam um personagem masculino bem boçal e machista, mostrando como ele é grotesco. Também foi a primeira vez que a Disney mostrou uma princesa na posição de salvadora do príncipe, e não o contrário, como de costume.
- Jasmin, de Aladin, de 1992. A filha do sultão é uma das princesas mais avançadas em termos de representação da mulher moderna. Rebelde frente ao poder patriarcal e à ordem da realeza, ela desafia a estrutura social ao assumir o amor por um rapaz de classe bem mais baixa. Diferentemente da maioria das princesas, ela tenta fazer seu próprio destino, sem esperar passivamente pela ajuda dos outros. E é também a primeira vez que a heroína não é branca com características européias. O personagem mau do filme é um homem, porém feio, que não atende a nenhum estereótipo de beleza. Até porque os bonitos são bons.
- Pocahontas, de 1995. Ela é também um marco da visão mais feminista nos desenhos Disney. Desafia o poder patriarcal, não aceita o noivo que o pai lhe impõe, não pensa em casamento, e também não é passiva. Ela é que tomaa iniciativa e ― pasmem! ― beija um homem (e aqui é beijão de lingua, ha ha), sem pensar em casamento. No final, é ela quem salva o homem e toda a sua tribo e ainda discursa com propriedade e sabedoria.
- Mulan, de 1998. Quando o imperador ordena que um homem de cada família seja convocado para servir ao exército, Mulan, sabendo que seu pai está velho e doente e, portanto, não resistiria à guerra, decide assumir seu lugar. Disfarça-se de homem e se apresenta no exército, de armadura, espada e tudo. É legal a parte em que é mostrada indignada com a condição das mulheres, que têm de se enfaixar, se entupir de maquiagem e andarem retidas, com aqueles tamancos altíssimos. Ela odeia isso tudo. E, quando se disfarça de homem, cortando os cabelos, tirando a maquiagem, tirando os vestidos apertados e colocando calças, ela se sente muito mais confortável e feliz. E ainda se dá melhor do que os homens! Se torna o melhor, mais persistente e mais inteligente soldado. Mesmo com menos força, ela se sai melhor, o que é uma vergonha para os homens. No final é ela quem salva um país inteiro! Mulan torna-se a protagonista atual mais feminista da Disney.
- Tiana, de A Princesa e o Sapo. Este ano, a Disney lançou a personagem Tiana, a primeira heroína negra da história do estúdio. Pelo que eu li, Tiana é a primeira do panteão de princesas a trabalhar fora, como garçonete, mas acaba servindo a uma branca rica. Apesar de sua beleza, Tiana passa a maior parte do filme transformada em um sapo, ao lado de um príncipe boêmio, falido e amaldiçoado, longe de estereótipos anteriores.
É bom acompanhar essa trajetória dos desenhos Disney, pois suas mensagens, tanto diretas, indiretas e subliminares, são absorvidas pelas crianças.Esta outra ilustração do Sociological Images fala sobre a Branca de Neve (minha pobre tradução): “Sua sexualidade nascente é uma ameaça para outra mulher, então ela é morta. Sua única qualidade, beleza física, é o que a salva no final”. Sobre Aurora: “Entronada no berço para solidificar uma posição política, ela é morta por uma outra mulher sem nenhum motivo. Seu dono, quer dizer, noivo, a salva com um beijo. Novamente, o sexo é sua única salvação”. Sobre Jasmin: “Esta princesa precisa se casar para satisfazer as exigências da lei. Sua relutância causa muita dor de cabeça a seu pai poderoso. Ela é escravizada por um homem poderoso e salva pela esperteza de um moleque de rua”. Sobre A PequenaSereia: “Esta drasticamente muda sua aparência física para tornar-se mais atraente para os homens. O preço é que não pode falar. Sem problemas, ela não tem nada de importante pra dizer mesmo. É salva por um príncipe”. Sobre Bela: “Salva a vida de um príncipe. Com sua única qualidade, sua sexualidade”. Sobre Cinderela: “Um príncipe a salva de condições de vida terríveis. Ele faz isso não por que ela dá duro, mas porque é linda”.
Aqui um post bem trabalhado sobre contos de fada que são, logicamente, a inspiração para todas as princesas Disney. E recomendo a leitura de um dos livros mais fascinantes que já li, A Psicanálise dos Contos de Fada, de Bruno Bettelheim (tem à venda pelo Submarino). A Lauren recomenda o mais atual Fadas no Divã, de Diana Lichtenstein Corso.


Fonte: Escreva Lola Escreva